01/12/2024

ESTERCO - STERKO

  


ESTERCO

minha poesia acorda hoje

meio menstrual falida

falha e se atrapalha

com a embocadura do verso


e do reverso infértil
e do plantio só fertilizante
que infecta infesta inferniza
o que se tornará comida

se soneto for será estúpido 
deletério meio entupido
será cuspido será depois cagado

se nem soneto for só sonolento
meio falido monstro menstrual
sem poesia sem soneto sem nada!


STERKO

mia poezio hodiaŭ vekiĝis

iom menstrua bankrota

manka kaj ĝi konfuziĝas

pri la buŝaĵo de l’ verso


de sengrasuma posta flanko 
de nur grasumigita plantado 
kiu infektas infestas inferigas
tion, kio iĝos nutraĵo  

se soneto estu estos ĝi malsaĝa 

ruiniga certe iom obstrukciata

estos kraĉata kaj poste fekata


se nek soneto estos nur dormema

iom bankrota menstrua monstro 

sen poezio sen soneto sen nenio!

NO DESENLACE SE RENASCE? - ĈU EN FORPASO ONI RENASKIĜAS?

  


NO DESENLACE SE RENASCE?

Ao poeta Augusto dos Anjos

revisitado

Vem nu e sem noção o ser que nasce

Neste intervalo a que chamamos vida

Ser pleno espaço no meu desenlace

Ser plena luz na hora da partida


Seja meu guia o Amor que cultivei

Mesmo que tosco muito do que fiz

Que eu saiba muito mais do que hoje sei:

Eu Sou a Vida muito mais feliz


Serei na morte como quem renasce

Grato ao boneco pleno de saúde

Pleno de consciência o desenlace


Na lápide só... que fiz o que pude

Se com saudade deixo meus brinquedos

Pleno e sem medo ganho este ataúde!



ĈU EN FORPASO ONI RENASKIĜAS?

Al poeto Aŭgusto dos Anĵos

reviziita

Venas naskiĝul’ nuda sen noci’

Al tiu intertemp’ nomata viv’

Iĝi plena spac’ dum mia forpas’

Iĝi plena lum’ dum mia forir’


Estu mia gvid’ la Am’ kultivata

Eĉ se torda multo de mi farita

Sciu pli mi nun ol sciite:

Mi Estas Viv’ kun tiom da feliĉ’ 


Forpase estu mi renaskiĝant’

Dankema al la pup’ plena je san’

Plena je konsci’ estu la forpas’


Memor-ŝtone: “mi faris kion povis

Se sopire miajn ludilojn lasas

Plena sen tim’ mi tiun ĉerkon gajnas!

VENANIA - URAGAN0

 


VENTANIA

havia o ventinho tímido 
com medo até de ventar
a manhã alegre transpirava fragrâncias
os pássaros, sinfonias
começa incessante o vento a crescer
fica forte e sem vergonha
e sem vergonha e sem medo
e sem vergonha e atrevido
e sem vergonha e insolente:
o inofensivo ventinho tímido
transforma-se em turbulência
tufão terror tempestade
furacão ferocidade 
segue intrépido e estrepitoso
quebra tudo que vê leva tudo que vê
com estrondo e confusão
vento safado! levantou a saia dela
só pra dar uma espiada, eta vento comilão!
comeu goiaba mamão comeu poeira e espirrou
será que o vento é alérgico?
nossa que vento forte fez voar o barracão!
será que ele está zangado? 
como venta veloz o vento
quando o vento quer ventar
solta vento pelas ventas
parece dragão sem fogo
querendo o fogo soprar!
ufa! até que acalmou ficou 
sereno sossegado ficou manso
ficou suado de tanto correr
vento até parece gente: 
se zanga e quebra o que vê
e xinga e arrebenta tudo
mas sossega de repente
    vento parece gente?

* * * * * * * *


URAGANO


ekis timida ventet' 
timema eĉ ventad'
parfumon transpiris gaja maten' 
simfoniojn, tiuj birdoj 
senĉese ekkreskas vento 
iĝas forta senhonta
sentima senhonta 
trokuraĝa senhonta 
aroganta senhonta:
sendanĝera timida ventet' 
iĝas tiam turbulad'
uragan' terur' tempest'
feroca furio sentima bruema
rompas forportas ĉion 
granda brua konfuzo
ruza vento vento ruza!
nur por elrigardeto 
levis ĝi ŝian jupon
kia vento manĝegema!
manĝis gujavon papajberon 
manĝis polvon kaj ternis
ĉu eble alergia? kia forta vento!
forflugis domaĉon!
ĉu koleretiĝis ĝi? 
rapidege ventas vento
kiam vento volas venti
naz-true delasas venton 
simile al senfajra drako 
kun vol' pri fajrablovad'!
finfine ĝi kvietiĝis
sereniĝis mildiĝis
pro tiom kuri ŝvitis
vento eĉ ŝajnas hom': 
furioze rompas ĉion 
ĉion insultas diskrevigas
subite tamen kvietiĝas
    ja vento ŝajnas hom'

 💔 💔 💔

DESENCANTO

original de Manuel Bandeira

Eu faço versos como quem chora

De desalento… de desencanto…

Fecha o meu livro, se por agora

Não tens motivo nenhum de pranto.


Meu verso é sangue. Volúpia ardente…

Tristeza esparsa… remorso vão…

Dói-me nas veias. Amargo e quente,

Cai, gota a gota, do coração.


E nestes versos de angústia rouca,

Assim dos lábios a vida corre,

Deixando um acre sabor na boca.


— Eu faço versos como quem morre.




 💔 💔 💔


DESENCANTO

à moda de Manuel Bandeira


faço poemas como quem cora

tão desatento ao desencanto

pecha do livre que nos devora

sois emotivo e duro e pranto


poema range ruge o dente

retesa o espaço em morse vão

mas morse é morte (ninguém entende)

e quem entende não fala não


e este poema de angu na boca

assim quisera estar de porre

cantar mais livre a verdade toda


        - mas faço versos como quem corre…



 💔 💔 💔


SENILUZIIĜO

simile al Manuel Bandeira (*)


honte mi poeziumas

malzorgata seniluzi’

misvoras libero misa

trosentemon ploron umas mi


roras kaj grincas tiu poemo

spaco streĉa (nur vana kodo)

mortanta kodo nur morsa kodo 

komprenemulo silenta emo


tiu surbuŝa kaĉ' el farun'

ĉu emas poemo al ebri'?

tutan plenveron ni kantu plu


        - kuro-simila poezi'…


(*) Manuel Bandeira (1886-1968) estas brazila poeto de modernismo iel romantisma. La originalan poemon oni konsideras metapoemo, tio estas, poemo celanta priskribi la proceson mem de la beletra kreado. 


AGORA - NUNO

  


AGORA

troco chronos por kairós
e ainda fico com troco:
sou sem antes sem após
vivo agora sem sufoco

kairós é fruir o agora
sem tempo sequenciado
jogado o relógio fora
sai futuro sai passado

e habita na memória
lâmina quântica espaço
corta o fio da história

do espaço me contemplo
essa faísca ilusória
sem pressa sem tempo: templo


NUNO

anstataŭ kronos', kairos'
eĉ groŝon konservas mi:
nek antaŭe nek post'
sensufoke vivas mi  
 
kairós' - jen ĝua profit'
tempopaŝo finiĝinta 
horloĝ' fine forĵetita
onto into foririnta

nun surmemore loĝanta
kvantuma kling', spac'
histori-faden' rompanta

el spaco jen kontemplo:
jen mi iluzia spark'
sen-hasta, sentempa: templo

QUEM SOU - KIU MI ESTAS

 


QUEM SOU

Eu sou o mistério

da pergunta-resposta

que em mim cintila

 

Eu sou o mistério

da resposta provisória

a cintilar em nova pergunta

 

Eu sou o mistério provisório

do Ser eterno

que em existir cintilo

 

Eu sou o mistério

do cintilar provisório

no mar eterno

do inconsciente

emergente do Si mesmo

 

Eu sou o mistério

de não ser o eu pessoal

sendo ainda assim

o mistério da Totalidade:

o Si mesmo.

 

Eu sou mesmo

o mistério em Si mesmo. 


************* 

 

KIU MI ESTAS

Mi estas la mistero

de la demando-respondo

kiu en mi trem-brilas

 
Mi estas la mistero

de la provizora respondo

trem-brile al nova demando

 
Mi estas la 
provizora mistero

de eterna Estulo

dum ekzista trem-brilo

 
Mi estas la mistero

de la provizora trem-brilo

en la eterna maro

de la emerĝanta 

nekonscienco de Si mem

 
Mi estas la mistero

ne esti la persona mio

estante tamen la mister'

de la Tuteco: Si mem

 
Mi estas la mistero mem

en Si mem.

POEMA DO ESCREVER - POEMO DE L' VERKADO

 


POEMA DO ESCREVER

escrevo porque escuro

então clareio

escrevo porque não sei

então nomeio

escrevo porque oculto

na pele da noite

então escavo coço caço

palavra poema imagem

escrevo porque me instigas

com suas leituras

novas torturas do expressar

escrevo porque me cura

a palavra e sua lavra e procura

escrevo porque me inventa

a invenção que teço

e me aconteço

autor do meu dizer disperso

sombra sufocada em cada verso

escrevo enfim porque tô a fim

de surpreender nas possíveis leituras

por que essa libertação

me fazer mais escravo do escrever

     com a fúria do me escavar


 * * * * * * * * 

POEMO DE L' VERKADO

verkas mi pro tiu mallum’

do mi lumas

verkas mi pro nesci’

do mi nomumas

verkas mi kaŝite

sub noktohaŭt’

do mi prifosas jukas ĉasas

vorton poemon imagon

verkas mi ĉar min instigas

per via legado

al freŝa esprimtorturo

verkas mi ĉar min kuracas

la verkoserĉa kulturado 

verkas mi ĉar inventas min

mia teksa inventado

kaj jenas mi

aŭtoro de mia disa eldiro:

ombro sufokata ĉiuverse

verkas mi finfine pro la volo

surprizigi dum eblaj legadoj

la kialon de ĉi liberigo

plie min sklavigi

verki verki verki senfine

         per furioza memkavado

ALÉM DO OU - TRANSE

 


ALÉM DO OU

na vida sofro ou finalmente sopro?

a vida une ou pune?

a vida é má ou uma?

nela o que me é mais cara

o que é máscara?

que lado em mim é ódio?

quanto é pódio palco

onde represento o falso?

que lado em mim tirano

a fluidez me vai tirando

vida movimento vai tirando

impondo a estagnação?

quando enfim saio do canto

e canto o sopro da canção?

 

TRANSE

en mia viv’ ĉu sufer’ aŭ fine blovo?

vivo ĉu unuo ĉu puno?

ĉu malbono ĉu uno?

en ĝi kiom da kosto

kiom da masko?

kiu flanko jen malamo?

kiom podio scenejo

kie falsaĵo ludo?

kie ŝajna tirano, flueca forpreno

viva mova forpreno?

ĉu stagno sintruda?

kiam mi elangulos

kaj kantos kantoblovon?

CHAMA TRINA / TRINO FLAMO

  CHAMA TRINA Inspiro Luz, retenho Vida, exalo Amor! Inspiro oito, retenho oito, exalo oito, Sempre que d'Isso me lembrar Reluz ...