sábado, 7 de junho de 2025

ENTREVISTA VEJA RIO

 
Entrevista Veja Rio

Paulo P. Nascentes

Como a arte contribui para o aprofundamento em questões internas em um contexto social de rápidas transformações?

Ao lado da filosofia, da ciência, das tradições espirituais, a arte é uma forma de autoconhecimento, autodescoberta, autotransformação. Usufruir arte faz isto. Imagine então criar arte, de acordo com sua forma de expressão favorita. Não somos os mesmos depois de assistirmos a um grande filme, uma peça de teatro inesquecível ou contemplarmos um quadro arrebatador. No caso da poesia o surpreendente é que palavras corriqueiras do cotidiano nos ponham em contato com a expressão do indizível. Movimentos no campo pessoal, por ressonância, reverberam nos demais campos coletivos, como o familiar, social, do trabalho, das amizades e assim por diante. No contexto de rápidas transformações, por que não tirar um tempinho diário para a leitura, a poesia, a meditação, a sintonia, enfim, com o Ser essencial?

 

2    De que forma a produção artística pode auxiliar na expressão de sentimentos?

Um pouco está dito nas linhas precedentes. Porém, a linguagem poética, pelo poder da polissemia é instauradora do novo, mais que qualquer outra forma de arte. Afinal, o traço do desenhista e as cores do pintor existem para criar beleza. No caso da poesia, o arrepio no corpo vem do inesperado do arranjo, das imagens, das figuras de linguagem. Essa mesma linguagem presente num prosaico recibo, num atestado médico ou de óbito. Na literatura, porém, cada leitor pode ser tocado em vários campos ao mesmo tempo: emoções, pensamentos, sentimentos, sensações. Quantos são os livros que nos deixam uma sensação de arrepio, conforto, desconforto. A literatura, em especial a poesia, existe para gerar algum estranhamento, algum desconforto e outros movimentos internos que nos fazem pensar. Bons livros tocam leitores em diferentes aspectos? O que este livro (Rabiscos poéticos de um sem noção) poderá despertar em você? Leia e descubra!

 

3Existem maneiras simples de exercitar a arteterapia no dia a dia? Se sim, como?

Sim. Antes de dormir e logo que acordar tenha em mãos lápis preto e coloridos, folhas de papel para a escrita e alguns desenhos. O que vier de mais espontâneo e inesperado revelará aspectos sobre nós antes velados. Como arteterapeuta fui intuindo com meus clientes e alunos de Letras na UnB a abordagem terapêutica Escrita Essencial. No ensino de redação, por exemplo, chamava-se Escrita no Ritmo Pessoal e uso de letras da Música Popular Brasileira. A poesia de bons compositores servia como estímulo emocional. Vinha logo depois da escrita livre, como que um derramar-se sobre o papel. Na clínica de arteterapia exploramos confissões, reminiscências, símbolos e outros aspectos desconhecidos do sujeito, porque inconscientes. A pegada pedagógica foi se tornando terapêutica. Quase todos os dias faço o exercício de mergulho em mim mesmo dessa forma. O que acontece no estúdio de arteterapia é esse encontro com a nossa multidimensionalidade, sobretudo com as nossas dimensões menos óbvias, como a surpresa de que todos somos seres criativos. Só que alguns de nós nem sabíamos.

 

4    A escrita e a leitura podem contribuir para uma abordagem terapêutica? De que maneira?

A ideia é promover saúde mental e ampliar a autonomia pelo autoconhecimento, induzindo a autotransformação.

Etapas da Escrita Essencial:

Aquecimento: Respiração consciente

Escrita no Ritmo Pessoal: expressão

Estímulo Emocional: poesias e letras da MPB

            Produção textual: comunicação

Roda crítica de Beneficiamento Textual

 

Nossa abordagem ajuda a desvelar o sujeito para si mesmo. Ou melhor, O Si Mesmo ou Self se torna visível para a pessoa e o terapeuta apenas amplia os sentidos ali presentes. O diálogo terapêutico fica facilitado e o mergulho nessa água profunda se torna superficial. Podem vir insights surpreendentes sobre o cotidiano (a-há!). Vem também choro misturado ao riso, outras emoções, alguma perplexidade.

 

5    Sobre seu livro “Rabiscos poéticos de um sem noção”, como a figura de Dorvalino retrata essa busca por um sentido para a vida por meio da literatura?

Protagonista no livro Percurso às avessas: Dorvalino semimorre (Litteralux: 2021), a figura destrambelhada de Dorvalino Mendes reaparece em novas peripécias no Rabiscos poéticos de um sem noção: o avesso do percurso (Um Livro: 2024), agora com a rebeldia juvenil temperada pela maturidade. Romance? Contos? Também as crônicas e poesias espelham a busca do sentido para a vida. O título dos três capítulos finais representaria o contato da personagem com um surto psicótico? Nos capítulos “Porralouquice escrevinhadora I, II e III” a um Dorvalino atônito tudo se apresenta como fluxo do inconsciente e irrompe forte rompendo, assim, de vez os limites de gênero literário, enredo, tempo e ambiente da narrativa. Os rabiscos poéticos de um novo tempo testemunham o desmoronar da dualidade em favor da Unidade, cujo nome é Amor.

 

Perguntas que não querem calar: A) em que medida a arte é perigosa? B) onde posso encontrar seus livros?

A arte é perigosa para os que não querem sair das ilusões da dualidade, como os tiranos e os defensores da tirania e do domínio hierárquico. Aliás, regimes ditatoriais em todo o mundo querem bem aos artistas. Na certa querem o artista bem longe, encarcerado, silenciado, emudecido. O livro Percurso às avessas pode ser adquirido em (Percurso às avessas - Editora Penalux) e os Rabiscos poéticos de um sem noção em (Rabiscos poéticos de um sem noção: O avesso do percurso | Amazon.com.br). Também nas Casas Bahia, Lojas Americanas, Amazon (Rabiscos metapoéticos de um sem noção - Acontece).


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